sábado, 19 de setembro de 2009
Passado, presente e futuro
Futuro, o próximo instante,
Passado, o que foi futuro .
A vida não tem demora,
É fugaz, aliciante,
Precipita-se no escuro ...
Força
Alexandre Bruno Magalhães Araújo
Sei como lutas, valente,
Contra um cruel inimigo
Que simpatizou contigo
Fazendo de ti doente.
Quero, como teu Amigo,
Que definitivamente
Tu voltes a estar contente,
Regresses ao tempo antigo.
Tens um inimigo enorme,
Surdo, que finge que dorme,
Mas que te está desgastando.
Tu sentes isso na pele,
Mas força, dá cabo dele,
Com ele não sejas brando !
Isabel Silvestre
Desolada paisagem, serra agreste
De pedra descarnada sobranceira,
Lá pendurada em alta ribanceira
Onde o vento assobia quando investe !
Ao longe, ao fundo, avista-se um cipreste,
Mais perto, desenhada na clareira,
A Casa Grande, nobre, soalheira,
Sobressai na paisagem bem campestre.
E dentro, hospitaleira, acolhedora,
Notável e simpática senhora
Conhecida e famosa pelo canto.
Isabel - o seu nome - tão discreta,
Silvestre - de apelido - uma vedeta
Apreciada que nem sabe quanto ! ...
Honra haja
Haja saúde, paz e alegria,
Haja trabalho e pão em abundância,
Haja justiça, dome-se a ganância,
Haja verdade, não hipocrisia.
Haja humildade, curve-se a arrogância,
Haja sorriso, exulte a simpatia,
Haja simplicidade e cortesia,
Haja saber e menos ignorância.
Haja princípios sãos, de gente adulta,
Haja perdão a quem nos dificulta,
Haja um olhar mais doce a quem ultraja.
Haja a mão que se estende, caridosa,
Haja quem cuide da pessoa idosa,
Haja lábios que beijem. Honra haja!
Na campa de meus Pais
Vergado ao peso enorme da saudade,
Aqui estou, meus Pais, rezando a prece
Doce que cada um de vós merece
Nessa misteriosa Eternidade.
Aqui está, então, quem não se esquece
Que o Sol declina com a mocidade,
Que esta foge e se apaga com a idade
O calor agoniza e arrefece ...
Estou aqui, meu pai, estou aqui
Rogando a Deus, pedindo-Lhe por ti,
Para que seja calmo o teu descanso.
Mas não, não me esqueci da minha mãe,
Por ela rezo, oro-Lhe também,
Para que o sono eterno seja manso.
Reciproco
Ao casal AVIS
Beija-me, sim, com paixão
E com arrebatamento !
No auge do sentimento,
No cume da excitação ...
Beija-me, sim, no momento
Natural da afirmação,
Quando se tolhe a razão
E cresce o consentimento.
Beija-me, sim, ai !, eu quero,
Com aquele desespero
De um adeus, de uma partida !
Beija-me, sim, com calor
Aceso no despudor
Do grande amor de uma vida ...
Voai
Voai, meus pobres versos sem valor,
Subi alto, subi degraus sem fim …
E de cima, apontando para mim,
Dizei ao Mundo que fui vosso autor.
Não temais a traição que algum rubor
Salpique a minha fronte, cor marfim …
Sede, sim, o meu grito, o meu clarim,
E a força com que venço meu temor !
No meio das estrelas e dos astros,
Em magnífica confusão de brilhos,
Vós sois parte do esmo firmamento !
Na terra, olhando os Céus, ando de rastos
E vós, no Céu rasgando vossos trilhos,
Sois meu orgulho e meu contentamento …
Maldição
Sofro de uma terrível maldição
Que me persegue permanentemente !
É qualquer coisa estranha que se sente,
Indefinida, sem explicação ...
Assim, ora ando triste, ora contente,
Ou ora me arritmia o coração
Numa descontrolada exaltação
De sangue moço, intemperante, ardente !
Em alguns anos tudo é dierente,
Não há futuro, apenas o presente,
Um presente vivido sem medida ...
Com o correr do tempo, que saudade,
Que tortura, aflição e que ansiedade,
Que vão comigo até ao fim da vida.
Fingimentos
Finges que não percebes meus olhares
E que não te afogueiam os calores
Que te tingem o rosto de rubores
Denunciantes, para disfarçares.
E finges que não sentes os suores
Que te impelem buscando frescos ares
E finges que não finges, as vulgares
Atitudes normais nos fingidores.
Fingidora, que doce olhar me fazes,
Como ao falar-te minha voz é forte
E toda te contentas com as frases.
Finges então não ver o meu desnorte
Nesses delírios vãos e tão fugazes
Em que finjo tão mal ter muita sorte...
Aquele Poema
Sonho um poema que aconchegue a alma,
Suave, ameno, cheio de ternura,
Que inspire aquela paz, aquela calma
Dos justos, na alegria e na amargura.
Um poema gostoso a toda a gente
E, por alguém que dele não gostasse,
Fosse fixado inadvertidamente
Luzindo um brilho novo em sua face.
Poema articulado, tão perfeito
Que fosse exaltação, que fosse um hino,
Fazendo o coração bater no peito
Com a força do bambilhar de um sino.
Um poema que fosse comovente,
Qual aurora, poente ou horizonte,
O gorgolhar infrene da nascente,
A água interminável de uma fonte.
Um poema que fosse uma oração
À Natureza, ao Mundo, ao Universo,
E que inflamasse cada coração
E coubesse inteirinho num só verso!
Porém, esse poema é uma utopia,
Para ele não tenho arte ou jeito.
Mas sinto muito orgulho e a alegria
De o ter gerado dentro do meu peito...
Um poema fantástico, bonito,
Que transmita amizade, aquele gosto
De se estender a mão a um aflito
E depois se lhe ver sorrir o rosto.
Um poema, de facto, genial,
Congregador de forças e vontades,
Prémio da paz, um Nobel virtual,
Dissuasor dos orgulhos e vaidades.
Um poema magnífico, brilhante,
Entendido por todos os idiomas,
Palavras buriladas com diamante
Uma a uma, somando muitas somas.
Que fosse opus do bem, do bom, do belo,
A doutrina exemplar do proceder
E quando me inspirasse a cometê-lo
Acudissem as Musas para ver!
Que as palavras singelas do poema
Fossem inspiração de paz e amor,
Como brilhante e rútilo diadema,
A coroa suprema, o esplendor!
E depois, produzida a obra-prima
E com ela ajudando a Humanidade,
Adormecer, que o tempo se aproxima,
O sono que conduz à Eternidade…
Tão lindo como o desfazer da bruma
Dessas baças manhãs acinzentadas
E a chaminé de aldeia que defuma,
Lançando esparsas nuvens nas quebradas ;
Lindo como a nascente de um riacho
Que se despenha lá do alto agreste
Deslizando entre choupos cá em baixo
Onde a paisagem muitos verdes veste ;
Como aurora que surge a Oriente
Irradiando claridade intensa,
Ou arrebol vermelho no poente
Que apaga quando a negra treva adensa ;
Como a floresta verde murmurante
Oscilando ao sabor de mansos ventos
Ou dobrando-se em vénia preocupante
Agitada por sopros mais violentos ;
Ou como o mar que se desfaz na praia
Morrendo tão suavemente chão,
A viola, um pincel ou uma alfaia
Obedientes ao labor da mão.
Mas se os deuses quisessem ajudar
Dando-me aquela inspiração que falta,
Colocava o poema num lugar
Condigno, destacado, na ribalta.
sábado, 12 de setembro de 2009
A mulher
Mulher...A nossa Mulher,
A que nos pariu os filhos:
- Extraordinário ser
Com tanto talento e brilhos...
Mulher é, no nosso lar,
É Mulher na profissão,
Algum tempo para amar
Com ou sem disposição!
Vigilante e com desvelo
Para filhos e marido.
É, mas nem parece sê-lo,
Um anjo não assumido.
E, pior que nós não há,
Sem mexer uma palhinha
Afundamos no sofá
Enquanto ela cozinha.
Mas, no seu afã diário,
Não há qualquer surpresa...
Temos o noticiário
E ela desfaz a mesa.
Dela é sempre a maior perda
Que o trabalho não enjeita!
Sou a sua mão esquerda,
Ela a minha mão direita!
O.Pinho
08/08/21
Sem Jeito
SEM JEITO
O nosso amor, que é tão nosso,
Não posso calar. Não posso
Amordaçá-lo vilmente.
Porque ele estoira-me o peito,
Onde o coração, sem jeito,
Bate exageradamente!
O. Pinho
O8.10.21
Ouvi-te a Voz
OUVI-TE A VOZ
Ouvi-te a voz quebrantada
Dizer-me a nova funesta...
Foi noticia inesperada,
Crua, brutal, indigesta.
Era uma voz resignada,
De impotência manifesta,
A fruta desmoronada
Que não cabia na cesta...
Era a tremura da voz
Que se apodera de nós
Em rigoroso momento.
Era a alma que doía
Em busca de uma alquimia
Para tanto sofrimento!
O.Pinho
08.10.17
Meu Irmão
MEU IRMÃO
Meu irmão, quanto lamento
O espaço que nos separa...
Mas não turva a Sorte avara
O fraterno sentimento!
Quando a saudade me encara
E ensaia divertimento
É grande o constrangimento,
O distraído repara.
Meu irmão, malvada sorte,
Tu no sul e eu no norte,
Que destinos desiguais!
Separados, mal ou bem,
Vamos unir-nos no Além
Aos nossos amados Pais.
O. Pinho
09.02.14
Dói-me o Peito
Atormenta-me a saudade,
Do passado lembro tudo!
Dói-me o peito, sofro mudo,
Escondo da sociedade...
Quero reagir, mas, contudo,
Falta-me a capacidade
E com esta realidade,
A mim próprio não ajudo!
Carrego assim este aspecto
Mais pesado e circunspecto
Que a saudade põe em mim…
Mas digo-vos, convencido,
Que embora seja sofrido,
Gosto de viver assim!
O.Pinho
08.02.29
Céu e Inferno
Vou escrever um poema
De verdadeira paixão...
Sinto essa imposição
Compulsiva, intensa, extrema!
Pedindo-lhe inspiração,
Decide a Musa suprema:
Estou preso sem algema
Sem me evadir da prisão.
Os teus braços são amarras,
As finas mãos firmes garras,
O sorriso... uma promessa,
E já não sei se sou eu
Que estou às portas do Céu,
Se um inferno que começa!
O. Pinho
09.01.16
Cálido Agosto
CÁLIDO AGOSTO
Sente-se um vento fresco, nesta calma,
Que suaviza, que amaina, que tempera,
Como a oração rezada, para a alma,
Como a sombra da tília refrigera.
Assim como a coroa em verde palma
Na fronte transpirada que vencera,
Ou o antibiótico que acalma
A dor silenciosa a quem sofrera.
Abençoado vento que suaviza,
Que mansamente corre, feito brisa,
Num cálido, exigente mês de Agosto.
Uma tosse convulsa e resistente
Fez-me pensar, inopinadamente,
Que me sinto mais débil, mais exposto.
O. Pinho
Apetecida Calma
APETECIDA CALMA
Quando andas junto ao rio
Tua vida meditando,
Não sentes, de quando em quando,
As vibrações que te envio?
Enquanto vais caminhando
Na paisagem que aprecio,
Não faças ínvio desvio,
Pensa que aí também ando.
Nessa apetecida calma
Vai revigorando a alma,
Carecida, tu o dizes.
E quando à noite recolhes,
Que te lembres e desfolhes
Os instantes mais felizes...
O. Pinho
09.01.15
À la minute...
Alto, rosto comprido, não moreno,
Cabelo curto, liso, cor caruma,
Tão branco agora como a alva espuma,
Nariz normal, nem grande, nem pequeno.
Sobre o lábio superior arruma
Bigode com nevão. E, não sereno,
Acede à Musa que lhe faz aceno
E solta o estro, sem paciência alguma.
Discreto nos diversos ambientes,
Gosta de conviver, cansar os dentes
E passá-los também por um bom vinho!
Amigo dos amigos tão fiéis,
Amigos, sou quem todos vós sabeis,
O Osvaldo Oliveira Campos Pinho.
O. Pinho
09.04.30
Tamega
Tâmega que se vislumbra
Aqui mesmo à nossa frente,
Lá vai, em mansa corrente,
Na paisagem que deslumbra!
Da madrugada ao poente
Ou na indecisa penumbra,
Este rio se vislumbra
Aos olhos de toda a gente...
Entre tufos de verdura
Vai emanando frescura
Em ambiente de sonho.
Mas quando o inverno o revolta,
É vê-lo correr à solta,
Rude, violento, medonho!
O. Pinho
09.07.24
Ninguem sabe
Ninguém sabe, como nós,
Os da nossa terra ausentes,
Dos sentimentos plangentes
Que nos embargam a voz.
Ninguém sabe, indiferentes,
Como nos sentimos sós
E, tantos anos após,
As saudades são presentes.
Ninguém sabe, pressuposto,
Que as rugas do nosso rosto
A saudade é quem as trama.
Ninguém sabe, com certeza,
Que come comigo à mesa
E dorme na mesma cama.
09.05.19
O. Pinho