sábado, 19 de setembro de 2009

Aquele Poema

Aquele Poema


Sonho um poema que aconchegue a alma,
Suave, ameno, cheio de ternura,
Que inspire aquela paz, aquela calma
Dos justos, na alegria e na amargura.
Um poema gostoso a toda a gente
E, por alguém que dele não gostasse,
Fosse fixado inadvertidamente
Luzindo um brilho novo em sua face.
Poema articulado, tão perfeito
Que fosse exaltação, que fosse um hino,
Fazendo o coração bater no peito
Com a força do bambilhar de um sino.
Um poema que fosse comovente,
Qual aurora, poente ou horizonte,
O gorgolhar infrene da nascente,
A água interminável de uma fonte.
Um poema que fosse uma oração
À Natureza, ao Mundo, ao Universo,
E que inflamasse cada coração
E coubesse inteirinho num só verso!
Porém, esse poema é uma utopia,
Para ele não tenho arte ou jeito.
Mas sinto muito orgulho e a alegria
De o ter gerado dentro do meu peito...




Um poema fantástico, bonito,
Que transmita amizade, aquele gosto
De se estender a mão a um aflito
E depois se lhe ver sorrir o rosto.
Um poema, de facto, genial,
Congregador de forças e vontades,
Prémio da paz, um Nobel virtual,
Dissuasor dos orgulhos e vaidades.
Um poema magnífico, brilhante,
Entendido por todos os idiomas,
Palavras buriladas com diamante
Uma a uma, somando muitas somas.
Que fosse opus do bem, do bom, do belo,
A doutrina exemplar do proceder
E quando me inspirasse a cometê-lo
Acudissem as Musas para ver!
Que as palavras singelas do poema
Fossem inspiração de paz e amor,
Como brilhante e rútilo diadema,
A coroa suprema, o esplendor!
E depois, produzida a obra-prima
E com ela ajudando a Humanidade,
Adormecer, que o tempo se aproxima,
O sono que conduz à Eternidade…




Tão lindo como o desfazer da bruma
Dessas baças manhãs acinzentadas
E a chaminé de aldeia que defuma,
Lançando esparsas nuvens nas quebradas ;
Lindo como a nascente de um riacho
Que se despenha lá do alto agreste
Deslizando entre choupos cá em baixo
Onde a paisagem muitos verdes veste ;
Como aurora que surge a Oriente
Irradiando claridade intensa,
Ou arrebol vermelho no poente
Que apaga quando a negra treva adensa ;
Como a floresta verde murmurante
Oscilando ao sabor de mansos ventos
Ou dobrando-se em vénia preocupante
Agitada por sopros mais violentos ;
Ou como o mar que se desfaz na praia
Morrendo tão suavemente chão,
A viola, um pincel ou uma alfaia
Obedientes ao labor da mão.
Mas se os deuses quisessem ajudar
Dando-me aquela inspiração que falta,
Colocava o poema num lugar
Condigno, destacado, na ribalta.

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